A (in)capacidade de prever e lidar com o futuro depende da compreensão das relações de causa e efeito que fazem as coisas mudarem. As mudanças relevantes na ordem mundial acontecem, segundo Ray Dalio – fundador da Bridgewater Associates, maior fundo de hedge do mundo – com uma rapidez sem precedentes em nossa época, mas já vivenciada em períodos passados.
Temas como aumento da inflação e dos juros a nível global no mundo são conhecidos pela humanidade. Assim, para desempenharem bem suas funções, os Bancos Centrais têm de ter pelo menos duas características. Uma delas é a paciência. Na maioria das vezes é necessário esperar para que as decisões de política monetária façam efeito.
A tentação de exagerar nas doses para apressar as coisas é grande, mas essa prática invariavelmente provoca efeitos colaterais. A outra é o ceticismo. A teoria por trás da atuação dos Bancos Centrais é bem conhecida. Mesmo assim, a economia é um organismo dinâmico e complexo demais.
Por isso, é ilusão esperar que intervindo em uma só variável, ainda que importante como a taxa de juros, seja possível obter todos os efeitos desejados na inflação e no ritmo da atividade econômica. Será que a escalada de juros realizada pelos Bancos Centrais são eficientes para arrefecer a inflação quando esta é oriunda de mais demanda que oferta?
Há um ano, tínhamos a taxa Selic em 3,50% e uma inflação a 8%. Hoje, a primeira alcançou 12,75% e a segunda 12,13%. Diante das projeções do Copom e do risco de desancoragem das expectativas para prazos mais longos, o comitê enxerga como apropriado que o ciclo de aperto monetário continue avançando significativamente em território ainda mais contracionista. Em outras palavras, não será surpresa que, na próxima reunião do Copom (dias 15 e 16 de junho), a Selic seja anunciada com uma nova alta.
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Esse fenômeno é mundial. E, por isso mesmo, evoluções, ciclos e acidentes no meio do caminho são naturais.
Como exemplo, o gráfico a seguir mostra a relação de riqueza e poder dos onze principais impérios dos últimos quinhentos anos. Cada um dos índices de riqueza e poder é uma combinação de oito determinantes diferentes:
- Educação;
- Competitividade;
- Inovação e tecnologia;
- Produto econômico;
- Fatia do comércio internacional;
- Poderia militar;
- Força como centro financeiro;
- Status da moeda de reserva.
Segundo Ray Dalio, em seu livro “A Ordem Mundial em Transformação”, a tendência de alta de ganhos de produtividade que leva ao aumento da riqueza e à melhoria dos padrões de vida é envolta em ciclos que produzem períodos prósperos de fortalecimento do país, pois conta com níveis relativamente baixos de endividamento, hiatos políticos, de riqueza e de valores relativamente pequenos, um povo que trabalha unido de maneira eficaz para produzir prosperidade, boa educação, boa infraestrutura, líderes fortes e capazes, e uma ordem mundial pacífica guiada por uma ou mais potências mundiais dominantes. Esses são os períodos prósperos.
A imagem a seguir mostra a importância dos determinantes numa progressão típica em ascensão, auge e queda.
Quando levados ao excesso, diz Dalio, e isso sempre acontece, os resultados são os deprimentes períodos de destruição e reestruturação em que as fragilidades fundamentais da nação – altos níveis de endividamento, grandes conflitos políticos e de valores e desníveis de renda, várias facções de pessoas que já não são capazes de trabalhar bem juntas, educação e infraestrutura de baixa qualidade e o desafio de manter de pé um império esticado em excesso sob ameaça de rivais emergentes – levam a um doloroso período de batalhas, destruição e, então, à reestruturação que estabelece uma nova ordem e às bases para um novo período de construção.
Algumas constatações:
- A China foi dominante por séculos (superava de forma consistente a Europa no campo econômico e não apenas nele), embora, a partir dos anos 1800, tenha iniciado uma queda acentuada;
- A Holanda, país relativamente pequeno, tornou-se o império mundial de moeda de reserva no século 17;
- O Reino Unido seguiu caminho bem semelhante, atingindo o auge no século 19;
- Por fim, os Estado Unidos ascenderam para tornarem-se superpotência mundial ao longo dos últimos 150 anos, mas em particular durante e após a Segunda Guerra Mundial;
- Os EUA vivem hoje uma queda relativa enquanto a China ascende novamente.
A independência do Brasil completa 200 anos. Lá atrás, a taxa de crescimento da renda per capita no século 19 foi irrisória, ainda que com algum impulso decorrente da abertura ao comércio exterior. Contudo, não havia boa definição de direito de propriedade e centralização do poder tolhia a atuação do setor privado, que dependia de aprovação do Conselho Imperial.
Uma parte dos problemas é a herança; outra, fruto de escolhas. Identificar, entender e adaptar-se a mudanças de paradigma é essencial, mesmo que não possamos prever. Nos mercados e na vida, para ser bem-sucedido é preciso apostar nas vantagens que se obtém por meio da evolução que leva a melhorias de produtividade.
O mês de maio
Maio foi mais um mês volátil para os mercados, com investidores globais cada vez mais preocupados com os juros subindo e riscos maiores de uma recessão econômica. Nesse cenário de juros em alta, as ações mais caras e de crescimento continuaram a sofrer. Lá fora, o índice de ações globais, MSCI ACWI, e o S&P 500 ficaram no zero a zero, enquanto o Nasdaq caiu -2,1% no mês.
Por outro lado, commodities e menor aversão ao risco impulsionaram o Ibovespa em maio, que avançou 3,22%. O dólar caiu 3,86% no mês. Além do Ibovespa passar o mês positivo e, apesar do fortalecimento do dólar frente a outras moedas, o Brasil continua como uma das melhores bolsas do mundo com um retorno de +25% em dólares até agora em 2022.
Nos EUA, o Federal Reserve (Fed), banco central americano, decidiu em subir a taxa de juros em 0,5 p.p. – a maior subida desde 2000, trazendo a taxa para 0,75% a 1%. Adicionalmente, o Fed indicou que irá começar o chamado o quantitative tightening – redução do tamanho do seu balanço nesse mês de junho. Daqui pra frente, deveremos passar por uma mudança de regime: de uma economia de inflação e juros baixos com bastante liquidez nos mercados, para outra com inflação mais alta, juros subindo e estímulos sendo removidos.
Nesse ambiente, ativos de crescimento e nomes com valuations altos devem continuar a sofrer. O Nasdaq, índice que concentra as grandes empresas de tecnologia lá fora, caiu mais -2,1% em maio e já acumula perdas de -22,8% até agora no ano. Enquanto isso, o S&P 500 terminou de lado no último mês, mas ainda assim cai -13,3% em 2022, isso depois de ter entrado brevemente em território de bear market.
Ibovespa e Real | Maio foi um mês positivo para a Bolsa brasileira e para o real. Ambos, no mês, se fortaleceram, com o Ibovespa fechando em alta de 3,22%, aos 111.351 pontos, e a moeda brasileira avançando 6,3% frente ao dólar comercial, que fechou negociado a R$ 4,75 na compra e na venda.
China | O governo chinês começou, em maio, a diminuir seus lockdowns, as restrições impostas pela sua política de Covid zero e ainda anunciou novos estímulos. O gigante asiático pode despejar US$ 5,3 trilhões em sua economia, através de recusas fiscais e investimentos do governo, ou até mais, no caso de o cenário não melhorar.
Vale e Petrobras| Os estímulos da China, maiores do que o esperado, puxaram setores importantes do Ibovespa, como a Vale (VALE3), lembrando que o país asiático é o maior importador de minério do mundo. Vale e Petrobras (PETR3; PETR4) correspondem, juntas, a cerca de 27% do Ibovespa. As ações ordinárias da mineradora subiram 3,5% em maio. Estes mesmos tipos de papel da petroleira subiram 9,60%, enquanto os preferenciais avançaram 10,2%.
Bancos | O setor financeiro teve importante papel na alta do Ibovespa de maio, impulsionado pelos resultados do primeiro trimestre, que vieram, majoritariamente, acima do esperado. As ações preferenciais do Bradesco (BBDC4), por exemplo, subiram cerca de 14%, enquanto as ordinárias do Banco do Brasil (BBAS3) avançaram 12%.
Cielo e Magalu | Cielo (CIEL3) registrou mais um mês de forte alta, acumulando avanço de 74% em 2022. Já o Magazine Luiza (MGLU3) teve no mês de maio forte queda, acumulando perdas de mais de 48% no ano, com papéis de empresas varejistas e techs ainda em baixa.
Abaixo, segue os principais indicadores financeiros no acumulado do mês de maio:
Ibovespa
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CDI
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Poupança +0,67%
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IFIX
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BTC
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Dólar
|
S&P 500
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Dow Jones +0,04%
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Nasdaq -2,05% |
Ouro
|
Mercado Internacional vs. Mercado Brasileiro
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