Na avaliação do diretor de Fertilizantes da StoneX, Marcelo Mello, há atraso “significativo” na comercialização neste ano. Ele explica que os produtores estavam segurando as compras dos adubos na expectativa de recuo nas cotações a partir do segundo trimestre deste ano – cenário que era considerado provável pelo mercado. “Os preços dos fertilizantes estavam muito altos, enquanto os dos grãos estavam razoavelmente mais baixos. A partir de janeiro, as relações de troca melhoraram muito, porque os grãos subiram com a quebra de safra. Entretanto, os problemas geopolíticos no Leste Europeu impulsionaram as cotações dos adubos e agora falta muito para comprar”, disse Mello ao Broadcast Agro (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado), se referindo à invasão da Ucrânia pela Rússia, que contribuiu para retração do produtor e desaceleração das compras.
A StoneX destaca que, além do atraso na comparação anual, observa-se que as compras estão evoluindo mais lentamente do que em anos anteriores, mesmo com a aproximação do período de adubação. Tanto a comercialização para o primeiro semestre quanto para o segundo semestre avançaram apenas 11 e 9 pontos porcentuais de novembro para fevereiro, respectivamente, quando no mesmo intervalo do ano passado, o progresso foi de 28% e 19%.
Até o fim de fevereiro, 60% dos adubos a serem utilizados nas lavouras brasileiras neste primeiro semestre – período de semeadura das culturas de inverno como milho safrinha e trigo e do algodão – já tinham sido comercializados. Em igual período do ano passado, produtor já havia garantido 76% dos adubos a serem aplicados na safra de inverno. A comercialização antecipada de fertilizantes para uso no primeiro semestre vem evoluindo lentamente desde maio do ano passado.
O maior atraso na venda antecipada de fertilizantes para uso no primeiro semestre, de 13 pontos porcentuais, é observado no Centro-Oeste, região que lidera a produção de milho safrinha e de algodão e que semeia antes que as outras regiões, destaca a StoneX. O índice de negociação dos adubos atingiu 66% do volume necessário na região em fevereiro deste ano, ante 79% observado em igual período do ano passado. Atrás do Centro-Oeste, aparecem as regiões Norte/Nordeste e Sudeste, ambas com 59% do volume comercializado, contra 58% e 54% reportados em fevereiro de 2021, respectivamente. Já o Sul foi a região que ficou mais distante da média nacional, com 56% das compras asseguradas, ante 65% há um ano.
A desaceleração das compras é reportada também na comercialização para aplicação no segundo semestre do ano – período de plantio da safra de verão 2022/23 – e nas grandes regiões produtoras de grãos de verão. Até o fim de fevereiro, 28% dos fertilizantes a serem adquiridos na primeira metade da temporada 2022/23 já haviam sido comprados pelos produtores brasileiros ante 43% de igual período do ano passado. As compras de adubos para o segundo semestre começaram a serem feitas em novembro do ano passado. Aproximadamente dois terços dos adubos consumidos anualmente no Brasil são utilizados na segunda metade do ano. Desse volume, a maior parte é aplicada a partir de setembro, quando começa o plantio da soja e do milho de verão.
No Centro-Oeste, principal região produtora de grãos de verão, o recuo na comercialização antecipada para o segundo semestre é ainda maior que o índice nacional, de 24 pontos porcentuais. No período reportado, 28% dos adubos já haviam sido contratados – idem à média nacional – ante 52% reportado em fevereiro do ano passado. A região Norte/Nordeste garantiu 37% dos fertilizantes para a segunda metade do ano, contra 45% há um ano. O Sul comprou 28% dos adubos necessários para o segundo semestre (ante 31% de fev/21) e o Sudeste assegurou 24% dos adubos (contra 22% há um ano).
O levantamento foi feito pela consultoria até o fim de fevereiro com misturadoras, distribuidoras, cooperativas, médios e grandes produtores de todas as regiões do País e considera as vendas de adubos por meio da fixação de preços e fechamento de contratos para entrega futura. A pesquisa compreendeu uma área de 26 milhões de hectares, equivalente a 43% da área semeada com grãos na safra 2021/22.
A retração das compras de adubos começou a ser observada no fim do ano passado, após um longo período, desde 2019, em que o produtor vinha assegurando cada vez mais antecipadamente o seu pacote de adubação, especialmente para grãos. O adiantamento se intensificava conforme a relação de troca – quantidade necessária de determinada commodity para compra de 1 tonelada de adubo – ficava mais favorável ao produtor. Essa relação, contudo, está menos favorável, em virtude das altas contínuas dos preços dos adubos. Ou seja, o poder de compra de fertilizantes pelo agricultor brasileiro está menor, apesar das cotações sustentadas das commodities.