Análise e Opinião

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Guerra, commodities e seus investimentos

Por
Bruno Hamu

O conflito armado entre Rússia e Ucrânia, que era considerado um cenário pouco provável, já completa mais de uma semana. Apesar da resistência ucraniana apresentar um desafio maior do que incialmente esperado, forças russas seguem avançando pelo território vizinho, apesar dos protestos em Moscou e uma crescente pressão por parte de empresas multinacionais e sanções mais profundas vindas de governos ocidentais, trazendo um panorama mais complexo. Os Estados Unidos e os membros da OTAN continuam anunciando sanções e providenciando assistência militar à Ucrânia com o intuito de isolar e enfraquecer o governo de Vladimir Putin. Entretanto, reiteram que devem evitar envolvimento direto da OTAN no conflito. A China se opõe a sanções econômicas impostas contra a Rússia. Apesar de manter o diálogo aberto com Kiev e afirmar preocupação por relatos de padecimento de civis no conflito, o país não condena as ações de Moscou e diz ainda ter esperança de encontrar solução diplomática para a disputa. De forma semelhante, a Índia, que tem relacionamento comercial importante com a Rússia especialmente no setor de armamentos, ainda não condenou publicamente as ações de Moscou.

Mas o que essa guerra traz de impactos para as Commodities?

Os preços das commodities estão no centro das atenções e, quando olhamos para as commodities agrícolas, a perspectiva é bastante sensível. A questão principal é a oferta de milho e trigo, ambos importantes, e fertilizantes, provavelmente é a principal questão a ser rastreada. De acordo com o USDA (Departamento de Agricultura dos EUA), a Rússia é o maior exportador de trigo do mundo, com cerca de 18% de participação, mesma importância de todos os países da União Europeia (UE) juntos, enquanto a Ucrânia é responsável por outros 10%. Assim, os dois países do leste europeu juntos são responsáveis por 28% de todo o trigo comercializado, motivo suficiente para justificar picos de preços no mercado de futuros. Outros exportadores, como a Argentina, também foram impactados pelo clima adverso de modo que a oferta e a demanda permanecerão apertadas.

E o gás, o petróleo e os metais?

A Rússia é inegavelmente um dos atores mais importantes nos mercados globais de petróleo, sendo o 3º maior produtor mundial com 11% da produção global de petróleo, além do gás natural e outros energéticos. Portanto, se a tensão no leste europeu continuar aumentando, podemos esperar efeitos significativos sobre a oferta global de energia e metais, e os preços das commodities podem seguir com flutuações violentas, podendo atingir preços nunca vistos.

E os seus investimentos, o que muda?

A inflação deverá seguir pressionada no Brasil e no Mundo. O forte aumento da SELIC que vem ocorrendo nos últimos meses, que provavelmente teriam seus primeiros reflexos agora, com esse novo cenário, foram por água abaixo. Não seria nenhuma surpresa que 2022, seja um replay de 2021, onde o relatório FOCUS, passou 35 semanas consecutivas fazendo ajustes de projeções de Alta de IPCA, consequentemente a expectativa de SELIC em 12,25% a.a., pode sim ser superada, mas nem tudo é tempestade. Nos últimos meses estamos observando grandes entradas de recursos estrangeiros na Bolsa brasileira, e com as recentes exclusões da Rússia dos índices que servem de referência para carteiras de fundos de investimentos poderemos ter um impulso adicional. Os ativos brasileiros têm figurado entre os favoritos dos investidores em meio a múltiplos baratos e à alta nos preços de commodities. O índice Ibovespa tem a segunda melhor performance do mundo neste ano em dólares, com alta de 22%, e o real se valorizou 11%.

Conclusão

Portanto, a Renda Fixa segue em alta, com boas oportunidades e uma Selic alta e a renda variável também, com boas oportunidades, porém, é necessário cautela já que o desfecho desse conflito parece distante. É importante saber realizar mudanças gradativas e com disciplina, tendo a consciência de que custos financeiros e emocionais estão em jogo quando queremos, mais do que realizar movimentos táticos, ficar indo “de um lado para o outro” nos investimentos sem ter uma estratégia bem definida.