Análise e Opinião

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A maior habilidade do século 21: autoconhecimento

Por
Thiago Goulart

Um dos caminhos mais profundos para viver uma vida equilibrada tem sido encontrar a habilidade do autoconhecimento. A capacidade de refletir sobre o nosso passado, presente e futuro não é de hoje. Perguntas, como: quais são os meus valores? Até onde eu posso ir? Qual é o meu propósito? Como posso melhorar os meus relacionamentos com os outros? Quais são as minhas forças e as minhas fraquezas? No que realmente eu acredito? Como posso enfrentar desafios? Como posso crescer como ser humano? São cada vez mais importantes para atingirmos nossos propósitos de vida.

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Daí, podemos fazer uma alusão a uma das frases mais célebres do mundo ocidental: Conhece-te a ti mesmo. Inscrita na porta de entrada do Templo de Apolo, na cidade grega de Delfos, a máxima tinha como função estimular quem entrasse no santuário, a fim de encontrar previsões para o futuro e refletir sobre as próprias ações.

Um dos frequentadores mais assíduos, como não podia deixar de ser, foi Sócrates. A frase marcou o filósofo, tornando-se a base de sua filosofia. Em seus diálogos, os quais temos acesso graças a Platão, ele pregava que cada um de nós olhássemos para dentro em busca da verdade, numa espécie de viagem interior. Este ato, ou melhor, este exercício por si só nos transformaria em pessoas melhores.

Séculos depois da morte de Sócrates, esse conselho está mais atual do que nunca. A demanda por diversos afazeres, inúmeros estímulos sensoriais simultâneos, micro tarefas realizadas a todo instante, trânsito, notificações em celulares, ou seja, tudo isso junto e misturado resulta em uma época sobre a qual estamos muito mais tempo desconexos de nós mesmos.

Neste artigo, temos como propósito elencar alguns pontos para que você encontre seus valores, compreenda a sua trajetória, se é o momento de mudar de rumo, lutar pelo que acredita e ter uma vida equilibrada para alcançar o sucesso. O caminho pode não ser fácil, mas quem faz essa viagem costuma voltar cheio de aprendizado.

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Sumário

. Qualidade, competência e autoconhecimento
. Franqueza: pergunte para si mesmo
. Seja humilde e peça ajuda
. Estabeleça o que é preciso mudar
. Os meios do autoconhecimento
. Água do rio não passa pelo mesmo lugar
. Faça o teste: você sabe quem é de verdade?

O autoconhecimento nos permite negociar com paciência, perspicácia e parcimônia os principais problemas dos nossos relacionamentos com os outros e com nós mesmos. Os resultados podem se manifestar em parcerias, boas alocações de recursos no momento de estabelecer os objetivos da sua carteira de investimentos, facilidade e capacidade de se colocar no lugar do outro.

Já em relação a nós mesmos, um autoconhecimento mais desenvolvido nos ajuda quando precisamos lidar com as emoções, tais como: raiva, medo, inveja, ansiedade e a confusão profissional. É o que distingue aquelas emoções e reações destruídas pelo fracasso, daqueles que sabem como receber os problemas da existência com uma resiliência bem-humorada.

Qualidade, competência e autoconhecimento

Qualidade e competência são fundamentais para alcançarmos o sucesso profissional. Acima delas, existe uma habilidade da qual as outras dependem para serem colocadas em prática: o autoconhecimento.

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O autoconhecimento é indispensável para o profissional do século 21. De acordo com o relatório do Fórum Econômico Mundial sobre o futuro do trabalho – The Future of Jobs 2020 – aptidões como criatividade, colaboração, flexibilidade, pensamento crítico, capacidade de trabalhar sob pressão e resolver problemas complexos já são procurados por empresas. E o autoconhecimento é o ponto de partida para o desenvolvimento dessas soft skills ou habilidades comportamentais.

O autoconhecimento sempre foi importante. Contudo, a intensidade com que as  transformações do mundo do trabalho têm passado, as demandas das novas gerações de profissionais como o trabalho remoto via home office, freelancer e novos modelos de gestão foram acentuados pela pandemia, exigindo cada vez mais boa capacidade de gestão de si.

A responsabilidade pelos rumos da carreira está nas mãos do indivíduo e menos sob responsabilidade da empresa. Assim, ampliar a visão de si mesmo dentro e fora do ambiente de trabalho permite fazer escolhas mais alinhadas com o que você quer para a vida.

Entretanto, poucas pessoas sabem disso. No livro Insight da psicóloga Tasha Eurich, foi descoberto em uma pesquisa realizada com quase 5.000 pessoas que apenas 10% a 15% acreditam se conhecer bem.

Isso revela o retrato fragilizado do mundo em que vivemos, uma vez que o autoconhecimento está associado a índices mais elevados de satisfação no trabalho, nos relacionamentos, produtividade, autoconfiança e felicidade, além de menos estresse, ansiedade e depressão.

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Poucas pessoas conseguem refletir sobre a condução da própria vida. Isso permite construir de forma sólida o seu “eu”. Por outro lado, a maioria “deixa a vida levar”, como no samba de Zeca Pagodinho, vivendo num constante improviso de situações que podem ser delicadas quando vierem a ocorrer em suas vidas: problemas de saúde, aperto financeiro, dificuldades no trabalho ou desemprego. Quando isso ocorre, enxergar sentido e encontrar saídas para o problema tornam-se muito mais difíceis.

Viver como um autômato, ou seja, de forma automatizada tende a gerar uma ausência de consciência da sua realidade. Somos excessivamente estimulado no dia a dia por meio da ideia de que é preciso acelerar para se adaptar a tantas mudanças. Essa característica da atualidade não poupa quase ninguém e leva à perda de consciência da própria vida e do que é preciso de fato para se sentir realizado.

O resultado disso é conhecido: a desconexão com um planejamento de vida equilibrado gera uma multidão de pessoas perdidas quando a conta chega. A seguir, mostramos quais são os principais gatilhos para que você se conecte-se com o percurso que deseja trilhar.

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Franqueza: pergunte para si mesmo

O que eu faço, hoje, me deixa feliz? Tenho dado a devida atenção à minha saúde? Aos meus relacionamentos? Quais são as atividades que me dão prazer? Reservar parte do tempo para realizar os meus prazeres? Existe algo que me desmotiva?

O ato de você se perguntar sobre a vida que leva é primordial para se chegar a um possível conflito interno ou fontes de insatisfação. Nesse sentido, saber mais sobre si é uma forma de evitar que a crise apareça.

Seja humilde e peça ajuda

Por um viés quase determinista, somos o produto do que sabemos/achamos sobre nós mesmos e o mundo de relações que estabelecemos em nosso entorno. Portanto, solicitar um conselho, ajuda ou feedback de terceiros podem nos esclarecer muitas dúvidas. O exercício da humildade também gera empatia com o outro.

Observar nossas reações diante da opinião de terceiros também é parte do processo de autoconhecimento. Reconhecer o outro e reconhecer-se. Acolher a visão do outro diminui o impacto negativo que você gera sobre si mesmo.

Estabeleça o que é preciso mudar

A partir do momento em que você tem uma visão mais clara sobre si, torna-se mais fácil desenvolver hábitos positivos em seu comportamento ou em sua rotina. Assim, você consegue desenvolver melhor algumas habilidades que no começo da jornada do autoconhecimento não se via com nitidez.

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Observar hábitos, reações, convicções e modos de realizar tarefas são importantes. Assim, rever conceitos ou atitudes padronizadas podem estar defasadas do seu modus operandi, dificultando ultrapassar determinadas pedras no meio do caminho. Não se atentar para isso, pode tornar seus obstáculos ainda maiores dificultando sua evolução.

Daí que reservar um tempo para atividades prazerosas, dormir bem, exercitar-se mais tende a deixá-lo(a) mais disposto(a) e mais produtivo(a) ao longo dos dias. Escolha uma meta e trabalhe nela. Gradativamente você irá colher muitos frutos.

Os meios do autoconhecimento

A busca pelo autoconhecimento é muito particular. Nesse sentido, há alguns instrumentos que ajudam o ser humano a desenvolver um nível de criticidade voltado para si. Ajuda profissional é uma opção, mas há outros, como a leitura. O hábito de ler faz todo a diferença nesse percurso, porque é um ato quase solitário. Só não traz solidão, porque lemos vidas de personagens que foram escritas por autores em um determinado contexto.

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A atividade reflexiva, nesse caso, é altíssima. No fim das contas, seu perfil e suas metas são, de fato, o que irão guiar as estratégias descobertas. Se a queixa for uma rotina desorganizada e improdutiva, dificuldade para se adaptar a mudanças no trabalho, como explorar seus talentos ou organizar/planejar a vida financeira é importante traçar metas e avaliar sua evolução ao longo dos meses.

Meditar, praticar esportes, manter um hobby ou atividade que tragam prazer, e cuidar das relações próximas são estratégias que, além de aliviar tensões do dia a dia, favorecem a conexão consigo mesmo e com os outros e ajudam a compreender nossos padrões de pensamento e de comportamento.

Água do rio não passa pelo mesmo lugar

A frase acima diz muito, mas pode ter um complemento. O fluxo da água segue seu curso de maneira permanente. Assim é o processo de autoconhecimento: uma investigação permanente. O tempo e as experiências transformam nosso comportamento, necessidades e anseios, de modo que é importante revisitar nossas reflexões de tempos em tempos e nunca perder o interesse em nós mesmos.

Faça o teste: você sabe quem é de verdade?

O teste a seguir baseou-se nas perguntas realizadas pela revista Você S/A. Assim, reflita sobre as afirmações abaixo e, deixando o julgamento de lado, marque sim (S) ou não (N) de acordo com a percepção que tem de si mesmo. Peça a uma pessoa em quem confia e que considera que o conheça bem para também responder às questões com base na percepção que tem de você (e não dela mesma).

Em seguida, compare os resultados. Aproveite as discordâncias para saber mais sobre a imagem e as impressões que vem transmitindo e detectar possíveis fontes de conflito (interno e no ambiente). Você deve usar as informações como ponto de partida para definir mudanças de comportamento e caminhos para desenvolver o autoconhecimento.

1 Quando erro, sou capaz de reconhecer o erro.

S (   )   N (   )

2 Tenho clareza sobre o que me faz feliz ou o que é felicidade.

S (   )   N (   )

3 Sei o que me faz bem e mal em meu ambiente de trabalho.

S (   )   N (   )

4 Sou flexível e adaptável a mudanças no dia a dia.

S (   )   N (   )

5 Tenho clareza sobre minhas metas pessoais e profissionais.

S (   )   N (   )

6 Reconheço padrões em meu comportamento.

S (   )   N (   )

7 Tenho consciência do impacto de minhas ações nos outros.

S (   )   N (   )

8 Meus valores e crenças orientam minhas atitudes.

S (   )   N (   )

9 Gosto de analisar a situação antes de tomar decisões.

S (   )   N (   )

10 Me relaciono bem com a maioria das pessoas no trabalho.

S (   )   N (   )

11 Sei quais são meus sabotadores de produtividade.

S (   )   N (   )

12 Não tenho dificuldade em pedir ajuda.

S (   )   N (   )