Análise e Opinião

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Praticar tênis é uma aula de investimento

Por
Thiago Goulart

Sempre gostei de praticar esportes e, de certa forma, sempre me identifiquei ora mais, ora menos com alguns perfis de determinados esportistas. Quando criança futebol e automobilismo estavam à frente. Ayrton Senna, por exemplo, se tornou um símbolo para mim. Na adolescência, muito pela ascensão de Gustavo Kuerten, o Guga, a identificação e o gosto pela prática do tênis fizeram parte do meu cotidiano por uns 6 anos.

Após um bom período sem jogar, fui percebendo a desconexão entre mente e corpo e quão mal isso me fazia. Atualmente, o tênis faz parte dos hábitos saudáveis os quais tento manter. Além de excelente exercício cardiovascular, o jogo possibilita progredir de tempos em tempos a técnica, o preparo físico e o lado mental.

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A prática do tênis pode se tornar essencial para a busca do equilíbrio. Mens sana in corpore sano, diz a sentença latina.

Divertido e prazeroso, o tênis traz uma série de benefícios dentre as quais habilidades e competências que podem ser desenvolvidas com os adversários. Aprender a amadurecer com o oponente é fundamental para o avanço, por exemplo, estratégico. O adversário nos faz evoluir ao longo do tempo, assim como as vitórias e, principalmente, as derrotas.

Mais recentemente passei a me dedicar aos conteúdos de educação financeira e investimentos, observando um claro vínculo entre o “jeu de paume”, donde descende o tênis real/moderno (como dizem os tradicionalistas franceses), e investimentos.

Em toda partida é possível assimilar muito aprendizado. Elenquei três pontos (planejamento, diversificação/adaptação e resiliência/autoconhecimento), sobre os quais praticar tênis é uma aula de investimentos.

É sobre isso que escrevo adiante.

Sumário

. O jogo começa fora da quadra
. Um bom planejamento contempla a previdência privada
. Clima, estilo, quadra e adversário
. Diversificação e adaptação
. Resiliência e autoconhecimento
. Moral da história

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O jogo começa fora da quadra

Antes de entrar em quadra é preciso fazer algo básico: movimentos de ativação. Isso significa que se você não é um praticante habitual do esporte, dobre a atenção para possíveis contusões. Amadores fazem uma preparação por alguns minutos antes do jogo e, em quadra, partem para um aquecimento de trocas de bola.

No meio profissional isso é recorrente, o que não é o caso aqui. De qualquer forma, a preparação física é gradual, o que nos permite (re)conhecer os limites e até onde podemos dispor do nosso corpo. Além disso, existe um aparato inerente ao jogo: a raquete. No tênis, costuma-se se dizer que ela é a extensão do braço.

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A raquete é o instrumento de fina sensibilidade para o tenista, pois oferece controle, precisão e calibragem na potência pela tensão do encordoamento. Por isso, tenistas profissionais levam consigo inúmeras raquetes na bolsa para serem utilizadas ao longo de uma partida.

A partir daí, podemos fazer a primeira alusão aos investimentos: planejamento financeiro.

Um bom planejamento contempla a previdência privada

Planejar é modular riscos futuros, possibilitando maior qualidade de vida. Todo planejamento começa antes da partida.

A verdade é que há muitas pessoas que, seja por falta de planejamento financeiro ou de pensamento de longo prazo, deixam de se preparar para os momentos importantes de suas vidas.

No caso dos investimentos, nunca é tarde para fazer uma previdência privada. Este é um dos planejamentos mais importantes, pois garante a segurança necessária para uma vida com conforto e qualidade.

Entrar em quadra e jogar uma partida da qual você está confortável física e psicologicamente, garantindo qualidade nas devoluções e segurança em momentos críticos costumam trazer estabilidade, confiança e assertividade.

Verifique se o seu dinheiro está sendo destinado aos valores e propósitos que te movem.

Usufrua das possibilidades da preparação física e das raquetes aos quais você mais se adapta. Certamente seu rendimento pessoal e financeiro se tornarão maior a cada jogo e a cada aporte.

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Clima, estilo, quadra e adversário

Ao longo do tempo, nos treinos e jogos, muitos foram os perfis de pessoas que joguei, em diferentes condições de clima e tipos de quadra. A capacidade de adaptação e diversificação são componentes pouco triviais ao esporte, mas essenciais para o desenvolvimento da performance no longo prazo.

Veja a seguinte situação: jogar um torneio de tênis no verão, quadra saibro, debaixo de um sol escaldante cujo adversário é canhoto e ainda por cima utiliza muito spin, empurrando o oponente para o fundo da quadra.

O jogo certamente será duro, porque impõe obstáculos e variáveis. Mas não invencível!

Na situação descrita, podemos destacar alguns aspectos que tornam o tênis um esporte que exige constante capacidade de adaptação e diversificação.

Clima

O clima pode ser vantajoso ao jogador, mas… nem sempre é assim. Por exemplo, o vento é um fator que irrita, não somente aos profissionais, mas também aos amadores.

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Local úmido e frio deixa a bolinha mais pesada, além de quicar menos. Por outro lado, o verão gera maior desgaste físico e infla a bolinha, alterando o quique.

Estilo de jogo

Qual estilo de jogo adotar? Eis alguns: ser mais “devolvedor”, ou seja, aquele que se defende muito bem e escolhe uma oportunidade para atacar.

Neste caso, os pontos costumam ser mais longos. Subir à rede constantemente de forma a pressionar o adversário.

Ou ir para o ataque, arriscando mais golpes e encurtando os pontos por meio de winners (bola indefensável, que termina o ponto).

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Há jogadores que diversificam suas jogadas, dificultando a leitura do oponente.

Aqui, já escutei muitas pessoas dizendo-se desconfortáveis com oponentes que usam o efeito spin – nome dado para a rotação da bolinha no ar, ou seja, quanto maior a velocidade do giro, mais “pesada” a bola se torna para devolver, e mais para o fundo da quadra é possível empurrar o adversário.

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Forehand – o golpe com braço dominante – com efeito spin, na direção do backhand – o golpe com a mão não dominante – do adversário, tende a ser mortal.

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Outras pessoas variam os golpes com o efeito slice – opção para defesas no limite da movimentação, alcançando bolas muito anguladas. Outros preferem as bolas chapadas, alcançando velocidades acima da média.

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A sorte também pode ajudar em alguns momentos, por que não?

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O que também pode variar no estilo de jogo é ter um adversário canhoto, pelo simples fato estarem substancialmente em menor número que os destros, como também altera a percepção e leitura da partida. É comum jogar com destros, mas canhotos, não. A estratégia muda radicalmente.

Tipos de quadra

E, por último, os tipos de quadras. As mais comuns são as de grama, saibro e a dura. Associá-las aos grand slams – também chamados de majors, ou seja, os quatro eventos anuais mais importantes do tênis – e aos maiores vencedores da história desses torneios possibilita observar com clareza a brutal diferença de estilos dos jogadores.

. Wimbledon (grama): é considerado o slam mais tradicional do mundo, disputado em Londres. Aqui, o atrito da bolinha com a grama é menor que os outros tipos de quadra, ganhando enorme velocidade. Com 8 troféus erguidos, Roger Federer é o maior campeão.

. Roland Garros (saibro): talvez seja o torneio e a plateia mais charmosos, com os espectadores usando o clássico chapéu Panamá. Em Paris, Guga venceu três vezes. Mas o grande campeão é Rafael Nadal: 14 títulos. Esta é a quadra mais lenta por ser de terra batida e pó de tijolo.

. Australian Open (dura): esta quadra é a mais comum dos circuitos de tênis, já que os custos de manutenção são menores. A velocidade é considerada intermediária. Realizada em Melbourne, tem como maior campeão Novak Djokovic, com 9 títulos.

. US Open (dura): disputado em Nova York. O Arthur Ashe Stadium é a maior arena e o maior complexo de tênis do mundo, construída em 1997. Roger Federer é o maior campeão: 5 títulos.

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Diversificação e adaptação

Dois conceitos-chave dos investimentos estão intimamente relacionados ao tópico anterior: diversificação e adaptação. Optar por diversificar os adversários, estilo de jogo, tipos de quadra e climas distintos permitirá o desenvolvimento do seu jogo, adaptando-se às diferentes situações. Assim acontece ao investir.

A teoria e a prática demonstram que não devemos colocar todos os ovos na mesma cesta, uma vez que podemos perdê-los caso haja um imprevisto.

Por exemplo, uma carteira hipotética cujo portfolio do investidor possui cinco ativos de empresas do setor de commodities, mais cinco no setor de varejo e três fundos de investimentos em ações no Brasil.

Pergunta-se: quando algum fato político-econômico interno ou alguma guerra comercial (trade war) internacional envolver grandes potências globais (EUA e China, por exemplo) atingir o mercado de renda variável, esse investidor estará diversificado?

Lição: não faz sentido diversificar apenas em ativos correlacionados e da mesma classe.

Uma carteira de ações diversificada evita a dependência da volatilidade de que uma única empresa venha a dilapidar o seu patrimônio. Diversificar, em outras palavras, permite reduzir o risco, sem necessariamente reduzir a expectativa de retorno.

Recomenda-se que, dentro da mesma classe de ativos, como é o caso das ações, você diversifique entre empresas descorrelacionadas, ou seja, de setores diferentes.

Isso significa incluir na carteira empresas que se beneficiem da valorização do dólar (empresas que tem em seu DNA a exportação por exemplo) ou outras adequadas para surfar a retomada econômica no Brasil.

Energia elétrica pode ser um bom setor. Em geral, as empresas desse segmento são perenes, têm contratos longos, sobrevivem a períodos de crise e têm geração de caixa recorrente. Mas uma mudança na regulação do setor pode afetar a geração de lucro de todas ao mesmo tempo.

Outro ponto importante é diversificar entre as classes de ativos, respeitando o seu perfil de investidor, a sua tolerância ao risco e os seus objetivos de curto, médio e longo prazo.

Diversificar nas três classes de ativos a seguir, pode ser interessante: renda variável, renda fixa e expor-se a ativos estrangeiros, seja através de fundos cambiais, ETFs que replicam índices estrangeiro ou BDRs.

Há, ainda, a possibilidade de incluir aplicações focadas em ouro na carteira, além do Bitcoin e outras criptomoedas.

Eis algumas maneiras de construir um portfólio diversificado, focado não apenas na rentabilidade do seu patrimônio, mas na preservação do valor no longo prazo. Nesse sentido, você estará preparado às diversas circunstâncias que venham a ocorrer. Isso é adaptação face aos diversos cenários.

Resiliência e autoconhecimento

Não é raro em torneios grand slams, jogos profissionais durarem 4 horas. Aliás, as majors são disputadas em cinco sets. Os jogos são mais longos e durante a partida costuma haver muitas variações de performance, ainda mais se levarmos em conta adversários que já se enfrentaram várias vezes.

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Nesses casos, quando se fala de gênios do esporte como Nadal, Federer ou Djokovic, com vinte grand slams conquistados cada um, vencer não é sinônimo de planejamento, estratégia, diversificação ou adaptação ao jogo. A vitória só chega a partir da resiliência e da força mental, em outros palavras: autoconhecimento.

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O foco e a determinação são o resultado de tudo o que estamos falando até aqui, mas no final o que é preponderante são a resiliência e o autoconhecimento. Isso não é papo furado.

A resiliência dificilmente salta aos olhos dos competidores ou é apontada como a habilidade que mais chama atenção em um jogador, mas talvez o seu poder esteja no fato de ser subestimada.

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Quem investe achando que vai ficar rico de uma hora para outra, com apenas algumas aplicações certeiras, não é um investidor, mas um apostador. Isso também acontece no mercado financeiro. No livro A Psicologia Financeira, Morgan Housel afirma:

“O seu sucesso financeiro tem pouco a ver com o quão esperto você é, e muito a ver como você controla o seu comportamento”.

Não é trivial que, em uma final, dois jogadores de alto rendimento possam ganhar o torneio após uma virada perdendo de dois sets a zero, para três sets e dois.

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Outro livro importante que corrobora o que estamos dizendo:  Antifrágil: coisas que se beneficiam com o caos. Nesta obra, Nassim Taleb aborda um conceito que faz uma analogia aos produtos considerados frágeis, que devem ser manipulados com cuidado.

Se o frágil é aquilo que precisa de máxima atenção para ser utilizado, o antifrágil é justamente o oposto. Ou seja, quanto mais manuseado, mais esse objeto antifrágil se torna forte.

Nassim defende que, em cenários caóticos e adversos, que são extremamente desafiadores para todos, precisamos estar preparados para enfrentar qualquer situação. Nesse caso, o frágil se destruiria, perderia foco e a força mental. Por outro lado, se você for antifrágil, sairá ainda mais forte desses momentos. Isso é o acontece com raríssimos jogadores de tênis.

Uma mentalidade antifrágil resiste aos problemas e se torna ainda melhor. Novak Djokovic tem sinalizado essa característica neste ano de 2021. Ou seja, não é apenas se proteger contra possíveis adversidades, mas saber como se beneficiar das adversidades.

Nos investimentos, o que vale não é o acaso, mas a consistência.

A frase acima, significa investir todos os meses, na alta ou na baixa, ou seja, suportar a volatilidade do mercado de ações, mesmo quando acontecem circuit breakers. Significa comprar quando todos estão vendendo. Significa ter uma visão de longo prazo, para daqui 10, 20 ou 30 anos, quando os juros compostos provocam um efeito de bola de neve na sua carteira.

Investimentos, ativos ou derivativos antifrágeis são aqueles que conseguem se beneficiar das crises e trazer bons resultados aos investidores. Essa é a mentalidade do campeão.

Alguns desses ativos se beneficiam de choques e conseguem crescer quando se expõem à aleatoriedade, desordem, volatilidade e situações estressantes. É o caso, por exemplo, do ouro e das opções (derivativos).

A crise do coronavírus fez as bolsas e as economias mundiais recuarem forte, levando investidores e empreendedores a amargarem prejuízo. Entretanto, quem investiu no tempo certo, aproveitando do momento de incerteza, obteve bons lucros.

Fato é que, tanto no tênis como nos investimentos, sai na frente quem entende o poder da mente e se dispõe a controlá-la, daí o autoconhecimento ser uma das habilidades mais importantes do século 21.

Moral da história

É preciso estar em constante evolução. No meu caso, ao retornar à prática esportiva, recuperei algumas memórias da adolescência e juventude, a conexão entre saúde física e mental, além da aprendizagem de que praticar tênis é uma excelente aula de investimento.

Planejamento, diversificação, adaptação, resiliência e autoconhecimento. Essas cinco palavras possuem a tração necessária para quem deseja obter foco e determinação em seus objetivos. Não são fáceis de conseguir, até por que elas deveriam estar presentes de forma  constante em nossas vidas.

Compreendê-las e utilizá-las em nosso benefício, nos traz segurança e conforto diante das inúmeras situações imprevistas que nos são apresentadas cotidianamente. Algo muito semelhante nos investimentos, pois quanto mais aprendemos, a mitigação dos riscos se torna ínfima.

Cinco curiosidades de tênis

Por fim, vamos testar seus conhecimentos sobre o esporte tênis? Aqui vão cinco curiosidades sobre tênis:

  1. O tênis era praticado usando a palma da mão. Assim, foi chamado da “jeu de paume” (como mencionado lá no início do artigo) ou jogo da palma da mão. A raquete foi usada pela primeira vez no século 16;
  2. A mais antigo quadra de tênis, a Corte Real de Tênis encontrada no Hampton Court Palace, ainda é usada até hoje. A quadra era a favorita de Henrique VIII para jogar tênis e foi construída de 1526 a 1529;
  3. As quadras de tênis foram inicialmente esboçadas em forma de ampulheta, antes da quadra retangular padrão ser adaptada;
  4. Todos os anos, cerca de 54.250 bolinhas de tênis são usadas durante Wimbledon;
  5. A partida de tênis mais longa foi disputada entre John Isner e Nicolas Mahut e durou 11h05. Isso mesmo! Isner ganhou a partida.

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